O conceito não é novo e diz da relação de irmandade, união, afeto ou amizade entre mulheres, assemelhando-se àquela estabelecida entre irmãs.
Porém, a prática deste conceito tem trazido três princÃpios fundamentais à tona.
Primeiro, a decisão das mulheres abandonarem o comportamento nocivo (e por que não dizer ancestral?) de desqualificar outra mulher, propagando de forma repetitiva falsas verdades ao nosso respeito.
Foi um costume cultivado de dizer: mulheres não são amigas de verdade, mulheres são fofoqueiras, mulheres são competitivas e costumam ter outras mulheres como inimigas.
Eu gosto de dizer que essas frases hoje são cafonas, no sentido de alguém que está fora de contexto, desprovido de refinamento e sustentando um olhar quase provinciano.
Não, não somos mais assim. Despertamos do transe e percebemos que somos uma só, somos mais fortes porque temos umas às outras.
O segundo princÃpio fundamental é que estamos assumindo um feminino mais consciente da conexão profunda instintiva que carregamos e, assim, estamos legitimando a multiplicidade das mulheres e nos vendo representadas em cada uma.
As dores estão sendo legitimadas, cada vez mais os movimentos que nos conectam nos transmitem uma força, a maternidade real, os desafios do cuidar, a nossa relação com o corpo e nossa culpa em relação à s violências que sofremos. Tudo isso tem sido desnudado, debatido e uma grande fonte de abertura e aprendizado tem ficado cada dia mais disponÃvel para todas.
O terceiro ponto que para mim ainda é fruto de longos debates é a mulher deixar de se identificar como machista. Deixar de lado um modelo estrutural arcaico que nos trouxe tantas feridas, que nos fez sangrar e que gera a morte de tantas mulheres todos os dias. A sororidade está em, juntas, aprendermos a educar nossos filhos porque finalmente entendemos que o machismo, que foi percebido por muitas como uma forma de se diferenciar e se aproximar do mundo dos homens, na verdade é um mecanismo para restringir nossas escolhas e limitar nosso ecossistema, oferecendo a cada uma um aquário e não a vastidão do oceano.